Como melhorar suas competências em Urodinâmica
Competências em Urodinâmica. A função do trato urinário é armazenar e liberar urina. A preservação do trato urinário superior (rins) e a continência urinária são resultados da integridade do sistema nervoso central e periférico e das características anatômicas das estruturas envolvidas. Considerando estes aspectos, uma variedade de problemas e condições podem interferir nessas funções básicas. O exame urodinâmico é composto por vários testes que, individualmente ou coletivamente, pode ser usado para se obter informações sobre a função do trato urinário.
Nas últimas décadas avanços ocorreram nos softwares dos equipamentos e principalmente na prática urodinâmica com constantes atualizações das terminologias do trato urinário, dos termos urodinâmicos e da boa prática.
Para os profissionais que fazem urodinâmica (urodinamicistas) ou aqueles que recebem e/ou dependem do resultado para guiar o processo decisório seja ele tratamento clínico, fisioterapia ou mesmo uma intervenção cirúrgica, considero alguns aspectos importantes para melhorar suas competências em urodinâmica:
1 – Uma boa história clínica
Quando pensar em fazer a urodinâmica, não esquecer que o exame é apenas uma parte na investigação do paciente. Portanto, quanto mais informações sobre o paciente, os sintomas do trato urinário, diário miccional e os exames complementares maior será a probabilidade de obter uma resposta para o quadro.
2 – Qual é a pergunta a ser respondida pela urodinâmica?
Antes de partir para o exame, a pergunta a ser respondida deve ser elaborada. Os testes devem ser realizados para respondê-la. Após a pergunta definida, aliada a uma história clínica detalhada, recomendo elencar algumas hipóteses diagnósticas. No entanto, lembre-se sempre da famosa frase de Bates (1960): “The bladder is an ureliable witness” quando encontrar condição distinta das elaboradas previamente.
3 – Durante o exame, fundamental interagir com o paciente
Um bom exame começa com uma boa orientação do paciente. Antes da urodinâmica, o paciente deve ser informado exatamente o que se espera, e quais os testes serão realizados. A comunicação e a interação com o paciente devem ocorrer durante todo o exame. Avaliação da sensibilidade, testes de esforço, manobras provocativas, etc são exemplos dessa interação contínua.
4 – Observar as diretrizes da ICS
O exame padrão deve seguir as diretrizes da International Continence Society (ICS). Para você urodinamicista, procure estar atualizado com as padronizações atuais (ICS Standards). Para você que pede ou recebe o laudo, sugiro estar atento à qualidade do exame recebido. Procure dar preferência aos colegas que se dedicam com seriedade à realização do exame.
5 – Interpretar os gráficos no contexto clínico
Dado registrado é objetivo, mas interpretação não. O que quer dizer esse princípio urodinâmico? Que nem toda anormalidade é clinicamente significante. Ansiedade, dificuldade de o paciente entender os comandos como, por exemplo, inibir a micção na fase de cistometria o que pode ser confundido com hiperatividade detrusora. Outro exemplo é o achado de incontinência urinária de esforço numa paciente sem tal queixa.
6 – O diagnóstico (laudo) do exame faz sentido?
Três situações podem ocorrer:
– Exame normal: o que não significa que o paciente não tenha alteração. Lembre-se, ausência de alteração não exclui existência. O urodinamicista experiente sabe que nem sempre é possível reproduzir os sintomas.
– Hipótese diagnóstica confirmada: neste cenário, a sua hipótese baseada na história clínica se confirmou, deixando você a vontade para laudar ou instituir medidas de tratamento.
– Hipótese diagnóstica não confirmada: Aqui temos duas situações distintas. A primeira é que, mesmo não confirmando a hipótese, o diagnóstico tem sentido à luz dos sintomas do paciente (exemplo quadro de perdas urinárias aos pequenos esforços, porém o exame demonstra bexiga hipoativa e retenção causando transbordamento). A segunda é o diagnóstico sem qualquer relação com o quadro clínico. Neste caso, reavalie o gráfico, a boa prática do exame e se tal achado deve ser relatado no laudo. Algumas vezes o exame deve ser repetido.